11 outubro 2007

A lembrada canção,
Amor, renova agora
Na noite, olhos fechados, a tua voz
Dói-me no coração
Por tudo quanto chora.
Cantas ao pé de mim, e eu estou a sós

Não, a voz não é tua
Que se ergue e acorda em mim
Murmúrios de saudade e de inconstância,
O luar não vem da lua
Mas do meu ser afim
Ao mito, à mágoa,à consciência e à distância.

Não, não é o teu canto
que como um astro ao fundo
Da noite imensa do meu coração
Chama em vão, chama tanto...
Quem sou não sei... e o mundo?
Renova, amor, a antiga e vã canção.

Cantas mais que por ti,
Tua voz é uma ponte
Por onde passa, inúmero, um segredo
Que nunca recebi -
murmúrio do horizonte,
água na noite, morte que vem cedo.

Assim, cantas sem que existas.
Ao fim do luar pressinto
Melhores sonhos que este da ilusão.


1-1-1992 Fernando Pessoa, Poesia- I

1 comentário:

Anónimo disse...

e eu quero ver...este blogue a mexer!

arquivo